Três vezes por semana, um
profissional baixinho comparece devidamente uniformizado para atender na
sala dos velórios do Memorial Necrópole Ecumênica de Santos. Seu nome é
Freud e sua função é aliviar a dor de quem passa pela perda. Seu
atendimento é gratuito e para todos. O homônimo do pai da psicanálise é o
cão da raça Schnauzer, de 11 anos, pioneiro no serviço de apoio a
pessoas em velórios.
A terapia começou faz um mês. No bolso da roupinha azul, que lembra o
céu, Freud leva frases, como: “às vezes, o apoio e o conforto de que
você precisa vêm de onde você menos espera”. De vez
A cena, que se repete a cada um de seus atendimentos, é curiosa. O cão
funcionário chega devagar. Ao ser percebido, inicialmente causa
estranheza – assim como qualquer pessoa desconhecida ao aparecer no
velório de alguém. Mas em poucos segundos, algum dos “pacientes” se
rende: se agacha e chama o pet para dar e receber carinho e,
principalmente, conforto.
A dona do cãozinho é Victoria Girardelli, idealizadora do Dr. Auau – o
segundo projeto do Brasil e o primeiro de Santos que utiliza cães no
tratamento e recuperação de pessoas doentes, em hospitais. Ela conta que
está cientificamente comprovada a melhora nos quadros de doenças quando
há interação entre humanos e animais domésticos.
Endorfina
O motivo, segundo a psicóloga Ceres Faraco, diretora científica do
Instituto Nacional de Saúde e Psicologia Animal (Inspa), é simples. O
amor dispensado no afago ao bicho pode liberar no corpo humano dois
tipos de hormônios: a ocitocina e a endorfina, substâncias que provocam
relaxamento e prazer.
“Vários estudos tentam entender o que os animais fazem com as pessoas,
que mobilizam tantos sentimentos. Mas é fato que, nesse momento, o cão
pode deslocar o foco da dor e depressão e ajudar na situação de luto,
para amenizar o sofrimento”, explica Faraco.
Pioneira
Sergio Lascane, gerente de Marketing do Memorial, conta que a iniciativa
é pioneira no mundo. “A ideia surgiu com o nosso diretor-presidente,
Pepe Altstut, que gosta muito de animais. E foi incrível. O cão entra
discretamente e as pessoas imediatamente interagem. O impacto do luto
diminui”, conta.
A família de Eliete Gouveia, professora de 46 anos que estava no velório
do pai, aprovou a ideia. “Um animal sempre traz alegria. Por mais que a
gente esteja no sofrimento, conseguimos parar de pensar um minuto
nisso. Ele (o cão) só recebe carinho e é disso que a gente precisa. Só
com o olhar, já comove”.
Por enquanto, Freud é parceiro do Memorial em Santos e faz visitas três
vezes por semana, geralmente às segundas, quintas e sextas-feiras. A
ideia é que outros cães, devidamente preparados, sejam inseridos no
projeto.
Fonte: A Tribuna
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