A encenação da Paixão de Cristo é uma tradição teatral em Pernambuco,
com espetáculos profissionais e amadores sendo realizados em vários
municípios do estado - a famosa montagem em Nova Jerusalém, criada pela
família Pacheco, por exemplo, já tem mais de 40 anos de vida. Limoeiro,
Tracunhaém,
Verdejante,
São Lourenço da Mata e
Camaragibe
são outras cidades que também realizam suas Paixões. Essa variedade
acaba revelando uma profusão de atores que, ano a ano, recriam os
últimos momentos da vida de um dos profetas do cristianismo. Do mesmo
jeito que a narrativa é transmitida, há mais de dois mil anos, de
geração em geração, ela é encenada por pais, filhos, sobrinhos e netos,
em famílias que dedicam seu tempo para representar o conto religioso da
maneira mais emocionante possível.
A produtora, atriz e jornalista Edivane Batista acredita que o povo
pernambucano valoriza a história da vida de Jesus. "Em Pernambuco, tem
gente que já nasce sonhando em fazer uma Paixão de Cristo. Muitas
comunidades, muitos bairros têm sua própria encenação", afirma.
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Michelline Torres no ensaio da Paixão de Cristo com a filha, a esq.
Ana Clara (Foto: Priscila Miranda / G1) | , | | | | Mônica Vilarim e o filho, Yuri, que participam da
Paixão de Cristo de Moreno (Foto: Mônica
Vilarim / Acervo Pessoal) | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
A atriz Michelline Torres participa de uma montagem recifense da Paixão
de Cristo há 17 anos. Atualmente, ela interpreta duas personagens: a
mulher do sermão e uma das convidadas na cena do bacanal de Herodes. Em
2007, nasceu sua filha, Ana Clara, que ainda bebê foi levada para
participar da peça. “Desde um aninho ela participa do espetáculo da
Paixão de Cristo do Recife
e adora interpretar”, comenta Michelline. A personagem da menina é a de
uma criança entregue nos braços de Jesus. “Ela participa quando Jesus
fala ‘Deixai vir a mim as criancinhas’”, destaca a mãe.
Ana Clara, hoje com seis anos, explica como se sente ao entrar no palco
da Paixão pela quinta vez. “Eu sei que nada vai dar errado, então eu
fico calma”, garante a menina, confiante. Durante os ensaios da Paixão
de Cristo do Recife, cuja temporada deste ano será de 27 a 31 de março,
no Marco Zero da cidade, os atores voltam-se atentos para as explicações
do veterano José Pimentel, que dirige o espetáculo e interpreta Jesus
há quase 40 anos. “Existem muitos filhos da Paixão, das pessoas que
interpretam e fazem os filhos aqui”, brinca o ator e diretor.
A neta dele, por exemplo, praticamente nasceu dentro do espetáculo.
"Fiz a peça dos seis meses de vida até os 10 anos", lembra a jovem Bruna
Pimentel, hoje na produção da Paixão. Para sair tudo nos conformes nos
dias de apresentação, o elenco precisa ensaiar com antecedência. "São 10
ensaios e mais três ensaios gerais, com tudo organizado, já no Marco
Zero", explica.
Mônica Vilarim é atriz há mais de 25 anos. Junto com o marido, Roberto
Costa, e os dois filhos, Maria Eduarda e Yuri, a família encena há anos o
espetáculo da Paixão na cidade de Moreno, Região Metropolitana do
Recife. Este ano, apenas ela e o filho farão parte da apresentação.
"Tive compromissos e não pude participar. E Maria Eduarda também, por
causa dos estudos", explica Roberto.
Mônica comenta o significado para ela de atuar com os familiares,
especialmente em trabalhos como esse. "A gente sempre participou e
valoriza muito, porque é muito importante para a nossa cultura. Para
quem tem família é ótimo, porque a gente está sempre junto", destaca.
Ela faz a personagem Herodíades e Maria, irmã de Lázaro, na cena da
ressurreição dele. Já Yuri faz figuração no espetáculo.
Fonte: g1.globo.com