Imagine conviver com um alto risco de contrair câncer de mama e se deparar com um remédio que promete diminuir, em 50%, a probabilidade de incidência da doença. Essa realidade, antes inimaginável no combate a tumores, é uma prática recorrente em centros de referência de estudos do câncer e já encontra espaço em consultórios do Recife e na rede pública de saúde. O Raloxifeno é um medicamento aprovado no país há cinco anos, mas que ainda não é utilizado com a frequência que deveria para evitar a enfermidade. O resultado é que muitas mulheres têm a prevenção negligenciada, em especial as que se enquadram em grupos de risco, a exemplo das pacientes cujas mães, filhas ou irmãs já desenvolveram câncer, o que, na prática, eleva em pelo menos duas vezes e meia as chances de também serem vítima da doença.
Estudos clínicos sobre o uso da droga indicam uma redução na incidência do câncer de mama em metade das pacientes de alto risco. “O tratamento é realizado ao longo de cinco anos e pode surtir efeito para o resto da vida. O que deve ser observado é a relação risco x benefícios”, afirma o oncologista norte-americano Lawrence Wickerham, um dos diretores do National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project, instituição referência sediada em Pittsburgh, Estados Unidos.
Na rede pública de saúde, o composto é disponibilizado pelo SUS, mas a aquisição não é fácil. “Já temos esse tipo de prevenção farmacológica há anos, mas pouquíssimas pessoas têm conhecimento. A questão é que a iniciativa deve partir do paciente e, após constatado o risco, é necessário submeter um protocolo à aprovação, junto à Secretaria de Saúde, para que a Farmácia do Estado a forneça”, explica o chefe de mastologia do Hospital Barão de Lucena, Darley Ferreira. Em farmácias pernambucanas, a versão genérica do remédio pode ser encontrada a um valor médio de R$ 150 por caixa de 28 cápsulas. O tratamento é realizado mediante a ingestão diária de um comprimido. Trocando em miúdos, a prevenção completa por meio da droga (cinco anos de tratamento) custaria algo em torno de R$ 10 mil, pouco mais que as intervenções cirúrgicas mamárias para aplicação de próteses de silicone, por exemplo.
Apesar de não oferecer uma alta incidência de efeitos colaterais, o medicamento é prescrito em casos de risco comprovado, preferencialmente para mulheres acima dos 35 anos. Em alguns casos, pode haver problemas vasculares ou sanguíneos, o que descarta do tratamento pacientes com histórico de tromboses, embolias e acidentes vasculares cerebrais.
Para o especialista em câncer de mama do Real Hospital Português, Ricardo Costa, os riscos do Raloxifeno são contornáveis. O problema maior seria mesmo a falta de informação que existe também por parte dos próprios médicos. “Se eles não têm conhecimento de como a prevenção pode ser realizada, é pouco provável que a paciente sã procure o especialista por conta própria”. A novidade pode representar alívio a inúmeras mulheres. A turismóloga Rafaela Carolina de Oliveira, 30 anos, sabe o que é sofrer com esse receio. A mãe, a professora Rosângela Cristina, 56, foi diagnosticada com câncer de mama em 2011. Ainda comemorando o bem-sucedido tratamento, a família se prepara para lidar com a prevenção. “Não fico pensando que também vou ter a doença. Mas passei a me preocupar mais”, disse Rafaela.
Fonte: PERNAMBUCO.COM
Nenhum comentário:
Postar um comentário